Manuel Portela, director do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), ofereceu ao AMIGOS DA CULTURA um importante contributo para o espaço de discussão pública que pretendemos abrir com a divulgação do texto "Pelo direito à cultura e pelo dever de cultura!".
Sob o título "O Teatro Académico de Gil Vicente e a cidade de Coimbra", estão reunidos quatro artigos inéditos, escritos a 15 de Janeiro deste ano, que visam, segundo o autor, "objectivar um conjunto de questões políticas fundamentais a nível local". Os quatro textos estão já disponíveis na secção "outros textos" deste blog.
As relações entre o TAGV e a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) atravessam todos os textos, mas merecem especial destaque no capítulo I. O director do Teatro denuncia a "desresponsabilização dos sucessivos executivos municipais no que diz respeito a uma política cultural consistente no domínio das artes do espectáculo". Uma situação que se agravou a partir de 2006, quando a CMC deixou de prestar qualquer apoio financeiro à mais importante sala de espectáculos da cidade: "os responsáveis da Câmara Municipal de Coimbra decidiram ignorar ainda mais ostensivamente a contribuição do TAGV para a política cultural local".
Demonstrando, com exemplos concretos, a relevância do serviço público que vem sendo prestado pelo TAGV desde 1961, Manuel Portela lamenta a falta de "capacidade de observação" dos dirigentes municipais: "O conceito de política cultural – por certo inferível a partir da racionalidade dos actos de programação em curso no TAGV – é-lhes estranho enquanto tal: não sabendo pensar esse pensamento, não sabem também reconhecê-lo".
O segundo capítulo do texto é dedicado ao contributo do TAGV para a política educativa de Coimbra e à forma como o ensino artístico é encarado, em Portugal e na cidade: "é entendido como suplementar e não como nuclear na formação, com a consequente desvalorização das condições materiais e humanas necessárias à sua concretização". Justificando com essa carência a aposta do TAGV na criação do Serviço Educativo (à semelhança do que tem sido feito em várias outras salas do país), Manuel Portela elenca os vários constrangimentos com os quais o Teatro se tem confrontado nesse campo: a "carência de verbas das instituições autárquicas", a "burocratização excessiva das saídas escolares" e, sobretudo, a "insensibilidade" dos responsáveis escolares, "em particular aqueles que têm responsabilidades na determinação da política educativa local e regional". Se não fosse esta insensibilidade, acrescenta, "seria certamente mais fácil ao TAGV instituir esta dimensão educativa da sua programação e contribuir para mudar a percepção colectiva sobre o valor educativo da música, da dança, do teatro ou do cinema".
Na terceira parte do seu texto, o director do TAGV reflecte sobre o contributo do Teatro para a "política artística de Coimbra", debruçando-se sobre as relações entre criação e programação e enumerando os muitos exemplos de colaboração com criadores da cidade. "Interrogar o mundo através da arte significa também ter a oportunidade de experimentar e criar sem os constrangimentos das leis do mercado", escreve Manuel Portela. Nesse sentido, "como interface da Universidade de Coimbra no domínio das artes do espectáculo, o TAGV deve programar com pleno sentido dessa dimensão da sua função institucional".
"Ao conceber produção própria e programação como instrumentos de incentivo desinteressado à criação, o TAGV reafirma uma identidade pública específica e, ao mesmo tempo, desempenha melhor a sua missão universitária", conclui o director do Teatro.
Finalmente, no quarto e último capítulo do texto que quis partilhar com o AMIGOS DA CULTURA, Portela descreve "a relação do TAGV com os agentes económicos da cidade". Começando por analisar as condições existentes em Portugal para a aplicação da Lei do Mecenato e referindo-se às vantagens económicas, institucionais e simbólicas que podem advir para um investidor privado que apoie projectos culturais, o director do TAGV refere os esforços feitos pelo Teatro na tentativa de sensibilização de "50 empresas de Coimbra e região limítrofe", entre as quais se encontram representados "diversos ramos da actividade económica: imobiliárias, empresas de distribuição, centros comerciais, empresas do ramo automóvel, da construção, do cimento, do papel, do vidro, das novas tecnologias, da energia, da hotelaria, do turismo, do sector farmacêutico".
Sem deixar de ter em conta o contexto de crise económica que afecta o país e a região, Manuel Portela vai mais longe na interpretação que faz da fraca receptividade alcançada junto destas empresas: ela reflecte "aquilo que é a cultura política local dominante no que se refere ao investimento público na produção e na programação artística: para quê apoiar? Explique-me lá: para que serve isso?".
Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2008, 19:11h.
Sob o título "O Teatro Académico de Gil Vicente e a cidade de Coimbra", estão reunidos quatro artigos inéditos, escritos a 15 de Janeiro deste ano, que visam, segundo o autor, "objectivar um conjunto de questões políticas fundamentais a nível local". Os quatro textos estão já disponíveis na secção "outros textos" deste blog.
As relações entre o TAGV e a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) atravessam todos os textos, mas merecem especial destaque no capítulo I. O director do Teatro denuncia a "desresponsabilização dos sucessivos executivos municipais no que diz respeito a uma política cultural consistente no domínio das artes do espectáculo". Uma situação que se agravou a partir de 2006, quando a CMC deixou de prestar qualquer apoio financeiro à mais importante sala de espectáculos da cidade: "os responsáveis da Câmara Municipal de Coimbra decidiram ignorar ainda mais ostensivamente a contribuição do TAGV para a política cultural local".
Demonstrando, com exemplos concretos, a relevância do serviço público que vem sendo prestado pelo TAGV desde 1961, Manuel Portela lamenta a falta de "capacidade de observação" dos dirigentes municipais: "O conceito de política cultural – por certo inferível a partir da racionalidade dos actos de programação em curso no TAGV – é-lhes estranho enquanto tal: não sabendo pensar esse pensamento, não sabem também reconhecê-lo".
O segundo capítulo do texto é dedicado ao contributo do TAGV para a política educativa de Coimbra e à forma como o ensino artístico é encarado, em Portugal e na cidade: "é entendido como suplementar e não como nuclear na formação, com a consequente desvalorização das condições materiais e humanas necessárias à sua concretização". Justificando com essa carência a aposta do TAGV na criação do Serviço Educativo (à semelhança do que tem sido feito em várias outras salas do país), Manuel Portela elenca os vários constrangimentos com os quais o Teatro se tem confrontado nesse campo: a "carência de verbas das instituições autárquicas", a "burocratização excessiva das saídas escolares" e, sobretudo, a "insensibilidade" dos responsáveis escolares, "em particular aqueles que têm responsabilidades na determinação da política educativa local e regional". Se não fosse esta insensibilidade, acrescenta, "seria certamente mais fácil ao TAGV instituir esta dimensão educativa da sua programação e contribuir para mudar a percepção colectiva sobre o valor educativo da música, da dança, do teatro ou do cinema".
Na terceira parte do seu texto, o director do TAGV reflecte sobre o contributo do Teatro para a "política artística de Coimbra", debruçando-se sobre as relações entre criação e programação e enumerando os muitos exemplos de colaboração com criadores da cidade. "Interrogar o mundo através da arte significa também ter a oportunidade de experimentar e criar sem os constrangimentos das leis do mercado", escreve Manuel Portela. Nesse sentido, "como interface da Universidade de Coimbra no domínio das artes do espectáculo, o TAGV deve programar com pleno sentido dessa dimensão da sua função institucional".
"Ao conceber produção própria e programação como instrumentos de incentivo desinteressado à criação, o TAGV reafirma uma identidade pública específica e, ao mesmo tempo, desempenha melhor a sua missão universitária", conclui o director do Teatro.
Finalmente, no quarto e último capítulo do texto que quis partilhar com o AMIGOS DA CULTURA, Portela descreve "a relação do TAGV com os agentes económicos da cidade". Começando por analisar as condições existentes em Portugal para a aplicação da Lei do Mecenato e referindo-se às vantagens económicas, institucionais e simbólicas que podem advir para um investidor privado que apoie projectos culturais, o director do TAGV refere os esforços feitos pelo Teatro na tentativa de sensibilização de "50 empresas de Coimbra e região limítrofe", entre as quais se encontram representados "diversos ramos da actividade económica: imobiliárias, empresas de distribuição, centros comerciais, empresas do ramo automóvel, da construção, do cimento, do papel, do vidro, das novas tecnologias, da energia, da hotelaria, do turismo, do sector farmacêutico".
Sem deixar de ter em conta o contexto de crise económica que afecta o país e a região, Manuel Portela vai mais longe na interpretação que faz da fraca receptividade alcançada junto destas empresas: ela reflecte "aquilo que é a cultura política local dominante no que se refere ao investimento público na produção e na programação artística: para quê apoiar? Explique-me lá: para que serve isso?".
Sexta-feira, 15 de Fevereiro de 2008, 19:11h.