Com as orelhas a arder

Numa recente reunião no Teatro Académico de Gil Vicente, em defesa dos que fazem cultura em Coimbra, foi quase unânime a crítica à falta de uma política da Câmara Municipal para esta área, que, aliás, é pródiga e gosta de viver de subsídios públicos. Mário Nunes, o vereador do pelouro, e Carlos Encarnação, o presidente da autarquia, devem ter ficado com as orelhas a arder tal foi a violência dos ataques. O que foi presidente da Coimbra Capital Nacional da Cultura, Abílio Hernandez disparou: “A Câmara tem mesmo uma política anti-cultural. Gostaríamos que estivesse aqui, mas não está, e não é fácil manter um diálogo com uma parede”. E chegou mesmo a dizer que “os agentes culturais fazem um serviço público à sociedade, como um médico ou um padeiro”, não especificando, contudo, qual tem sido a postura da autarquia em relação àquelas duas profissões... Mas a coisa não se ficou por aqui, com José António Bandeirinha, pró-reitor para a Cultura da Universidade de Coimbra, a dar como referência o exemplo espanhol: “Lá, as mesmas pessoas que estão no campo de futebol e na praça de touros estão nos grandes halls culturais. Não há cultura de oposição, há oferta e as pessoas vão a tudo”. “Em Coimbra a cultura tem de ser integrada na política da cidade, não pode ser vista como um lixo”, declarou. Como não há mal que não venha por bem, os autarcas até tiveram sorte, porque o encontro contava inicialmente com a presença de Manuel Maria Carrilho, mas o deputado socialista e ex-ministro da Cultura esteve ausente devido a doença, com António Pedro Pita, director Regional da Cultura do Centro, a também estar ausente devido a uma reunião em Lisboa.

Campeão das Províncias, 28 de Fevereiro de 2008.