"Podemos criticar altamente a nossa Câmara"

O debate “Cidade, Arte e Política: o valor estratégico da cultura”, que aconteceu ontem à noite, 20, no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), centrou-se, totalmente, nos problemas que assolam a cultura, em Coimbra


O professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Luís Reis Torgal, foi um dos subscritores do documento que esteve na origem do debate, “Pelo direito à cultura e pelo dever de cultura”.

Visto que “qualquer cidade é conhecida pela sua oferta cultural”, Reis Torgal assinou o texto “porque esta cidade se bate muito pouco pela cultura”, e questiona se Coimbra é ou não uma cidade cultural.

No entender do docente, o fecho de locais como o Cine-Teatro Avenida e o Teatro Sousa Bastos, são alguns exemplos da falta de centros culturais na cidade. Porque Coimbra deixou de ter referências, “podemos criticar altamente a nossa Câmara”, defendeu.

Já Claudino Ferreira, professor de Sociologia, considera que “em Coimbra, quem lida com a cultura, gosta pouco de cultura. Vêem-na antes como um valor estratégico de auto-representação política”.

“A cultura em Coimbra parece que gira em torno de dois pólos: a Academia com o Fado e o Teatro”, critica Luís Quintais, cidadão conimbricense que participou no debate. No seu entender, falta “uma cultura underground, de risco, alternativa”.

A Baixa, diz, “devia ter um museu vivo e interactivo”. Por outro lado, “porque não se aposta, por exemplo, no teatro de revista?”, pergunta Luís Quintais, para quem “todos somos fazedores de cultura”.


Associações culturais exigem respostas

No TAGV estiveram presentes os responsáveis por algumas instituições culturais de Coimbra. A presidente da ProUrbe, Ana Pires, exige explicações por parte da autarquia, visto que “o principal responsável por tudo isto é o senhor presidente da Câmara”.

Também a directora da companhia O Teatrão, Isabel Craveiro, considera que as autarquias são responsáveis pela “definição cultural”, mas não são as únicas.

“Somos todos responsáveis pela definição de uma política cultural para a cidade”, salienta Isabel Craveiro, que deixou no ar a questão: “o que é que vamos fazer para a constituir?”.



Relação entre cidade e cultura tem que ser equilibrada

Na relação entre cidades e cultura existem quatro grandes “tensões” a resolver. O ex-director do TAGV, João Maria André, aponta as soluções para os problemas.

Para começar, afirma que “é necessário pensar em distribuir os espaços culturais”, não esquecendo que “são precisos outros em Coimbra, apesar de já haverem iniciativas culturais que devem ser aproveitadas”.

No que refere à solidez e à efemeridade de muitas das criações culturais, é urgente um equilíbrio entre os diversos projectos: se por um lado, “com a liquefacção tudo se esvai”, por outro, “a solidez na cultura pode impedi-la de inovar”, explica o ex-responsável.

Mas é necessário equilibrar, também, o impulso criador com a capacidade de planificar e gerir os espaços culturais. Por fim, diz João Maria André, é importante, não só aquilo que a cidade produz, como o que é realizado fora de Coimbra.

Neste sentido, “o público precisa de contactar com aquilo que é bom e que se faz fora de Coimbra”. “São estes os quatro traços fundamentais que se podem aplicar mas que Coimbra não tem conseguido resolver”, concluiu o interveniente.


Liliana Figueira, A Cabra, 21 de Fevereiro de 2008.