Autarquia de Coimbra acusada de não resolver problemas culturais

“A Câmara Municipal de Coimbra (CMC) tem uma política anti-cultural”, criticou o ex-director da Coimbra Capital Nacional da Cultura 2003, Abílio Hernandez, na sequência do debate “Cidade, Arte e Política: o valor estratégico da cultura”


Abílio Hernandez, que moderou a discussão em torno da cultura, explicou que “não temos de nos substituir à Câmara”. “Gostaríamos que estivesse aqui, mas não é fácil manter um diálogo com uma parede”.
Apesar de o debate pretender ser “uma reflexão sobre as questões que têm a ver com a cultura numa cidade, e não na cidade de Coimbra”, como referiu o ex-director, a discussão visou, sobretudo, a situação coimbrã.
“O papel de Coimbra no país está ameaçado, devido a políticas culturais desfavoráveis”, afirmou o professor na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (UC), José Reis, que apontou a CMC como o “causador do problema”.
“A cultura é um factor de energia criativa que advém de actores colectivos com ela relacionados. E Coimbra não pode desperdiçar o capital que tem nesses domínios”, defendeu o docente.


Cultura necessita de uma “política coerente e consequente”

A crítica à falta de políticas concertadas e articuladas, por parte da CMC, em relação ao desenvolvimento da cultura na cidade foi uma constante.
“A autarquia tem a responsabilidade de interferir nos diferentes domínios”, apontou a socióloga especialista em cidades e culturas urbanas, Paula Abreu. Contudo, “ela tem trabalhado de uma forma avulsa, sem orientação”.
Já o pró-reitor para a cultura da UC, José António Bandeirinha, entende que “a cultura não é um investimento rentável em termos económicos se for vista como um dos nichos da actividade política”.
Por isso, “tem que ser articulada com as outras dinâmicas da vida autárquica, académica”, logo, “tem que haver uma actividade concertada”, explicou.
Quanto ao director regional da cultura do centro, António Pedro Pita, não pôde estar presente na sessão. A representá-lo esteve o ex-director do Teatro Académico Gil Vicente, João Maria André, que leu uma nota assinada por António Pita onde expressava a necessidade de uma “política coerente e consequente”.

Liliana Figueira, A Cabra, 21 de Fevereiro de 2008.