Debate



Afonso Pereira Francisco




Antes de fazer uma intervenção sobre o debate que me trouxe aqui, queria colocar uma questão ao senhor professor Abílio Hernandez: onde é que pára o tal relatório da Coimbra 2003? Eu recordo-me que, aqui há uns dois, três anos, num debate, o senhor professor disse-nos que não nos podia entregar porque primeiramente tinha que o entregar ao Ministro. Mas até hoje não tive conhecimento (só se andei um pouco distraído) que ele tivesse aparecido por aí.

Sobre a questão do debate de hoje, eu gostava de ouvir falar mais da cidade de Coimbra do que de cidades abstractas, gostava de ouvir falar mais de cooperação do que competitividade e gostava de ouvir falar mais de condições de criação artística do que de cultura. Acho que há aqui uma mistura de conceitos e estranho, porque estão aí algumas pessoas que não são nada burras.

Nós não vamos ficar sem cultura – só quando o ser humano desaparecer. Porque cultura fazemos nós todos os dias. Acho que às vezes há confusões: uma coisa é cultura – ela existe, anda por aí –; outra coisa são condições de criação artística ou criação artística em si. Eu acho que é isto que é o problema fundamental em Coimbra, já de há muitos anos a esta parte: as condições de criação artística.

E é só.



Abílio Hernandez



Obrigado, Afonso.

Eu respondo já em relação à pergunta que me foi feita directamente do relatório. O relatório foi de facto entregue ao senhor Ministro da Cultura. Eu acabei o meu mandato em 30 de Abril de 2004. No dia 2 de Maio, porque 1 foi feriado, eu entreguei o relatório ao Ministro, que era então o Dr. Pedro Roseta. Não me pergunte se o senhor Ministro o leu, não faço a mínima ideia. O senhor Ministro esteve pouco tempo depois no Governo. Sei que depois do Dr. Pedro Roseta houve uma Ministra da Cultura chamada Maria João… qualquer coisa, não me recordo. Não sei se leu. E houve uma ministra chamada Isabel Pires de Lima. Confesso que não sei se leu. O que eu sei é que nunca fui chamado para discutir o relatório. O relatório é extenso, tem a dimensão de uma tese de Mestrado um pouco maior – duzentas páginas – e com um CD. Nunca fui chamado para o discutir e embora eu nunca tivesse sequer discutido isso ou questionado isso, quando o modelo de capitais nacionais foi dissolvido (depois da Capital Nacional de Coimbra e da de Faro), não houve, pelo menos publicamente, qualquer expressão das razões pelas quais o modelo foi dissolvido. A única coisa que surgiu publicamente foi que “não resultou”. Cada um de nós pode ter a ideia de que não resultou por isto ou por aquilo, ou podemos ter a ideia de que não, afinal resultou. Mas não houve nenhuma explicação do ponto de vista do poder, porque é que o modelo foi encerrado. Na altura foi dito que era substituído por outro projecto chamado “Território das Artes”, que confesso que não sei se existe ainda. Território das artes eu sei que existe, agora o projecto político “Território das Artes” não sei se existe. Presumo que o meu relatório ainda esteja no Ministério da Cultura, no Palácio da Ajuda, que é um sítio bom para ter relatórios. Eu já o pus à disposição de pessoas que fizeram trabalhos académicos sobre a Capital da Cultura. Facultei-o porque era, digamos, para esse efeito. Não me compete a mim, obviamente, publicar o relatório da Capital da Cultura. Aliás, passado este tempo todo, eu já nem sei bem o que é que está lá no relatório. Acho que não tem grande importância. Se não teve para os Ministros, porque é que há-de ter importância para mim?



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