Cultura em Coimbra está inquinada

Com a Câmara de Coimbra a chegar a um momento que consegue colocar as contas em dia, há que saber resistir a “grupos de pressão” em torno da cultura que desejam obter mais subsídios. Esta foi a opinião partilhada por Marcelo Nuno, Leite da Costa e Mário Martins no programa “Praça da República”, sábado, na Rádio Regional do Centro (96.2 FM) e realizado no Hotel D. Luís.

“Não tenho nada contra os agentes culturais da cidade e são fundamentais ao desenvolvimento, mas há um conjunto de pessoas que se considera a elite, acha que sabe mais que os outros e consegue ter acesso a mecanismos de pressão, organizando conferências, debates, escrevendo artigos e promovendo abaixo-assinados”, refere o vereador Marcelo Nuno, que tem o pelouro financeiro da Câmara, para sustentar que, “dada a limitação orçamental, o montante destinado à cultura é equilibrado e razoável”. “Nos últimos seis anos a autarquia fez um esforço brutal para equipar a cidade com um conjunto de infraestruturas para a actividade cultural, como nunca antes houve”, destacou.

A propósito do ocorrido na última reunião do executivo municipal, Marcelo Nuno destacou que “a dívida da Câmara passou de 30 milhões de euros para 7 milhões de euros, a curto prazo, e está cumprida a promessa de conseguir pagar a três meses aos fornecedores”. “Acontece que Victor Baptista, atira para o ar com um número de 17 milhões de euros de dívida, mas em relação a isto não é possível fantasiar”, diz o social-democrata, acrescentando que “a Câmara tem contabilidade organizada e possui contas credíveis, certificadas e não forjadas”.

“O que o vereador do PS tentou fazer é um número de circo, porque sabe que o momento de se dizer a dívida é quando apresentarmos, em breve, o relatório e contas. Vive noutro planeta, não tem a noção da realidade, acha que esta é uma boa bandeira e faz dela um cavalo de batalha”, declara, para acentuar que “as contas da Câmara reflectem o esforço em conter os gastos, diminuir o endividamento de curto prazo e fazer com que o equilíbrio financeiro não seja circunstancial, mantendo-se para além da nossa passagem”, destacando, ainda, que o município de Coimbra “consegue ter 42 milhões de euros de capacidade de recurso a crédito, como poucas a nível nacional, o que lhe permite fazer obras”.



Subsídio-dependentes

Juntando-se ao debate, o ex-director municipal da Cultura começou por destacar o facto do semanário “O Despertar” manter-se “activo e visível” com o contributo de Lino Vinhal, “o que parece passar despercebido aos que em Coimbra só parecem interessados em dizer mal”,

Leite da Costa congratulou-se por a Câmara ter as contas em dia, sustentando que “não se pode dar dinheiro aos que se estão nas tintas para a cultura e são subsídio-dependentes”. “É estranhíssimo que a oposição diga que a autarquia tem dívidas e depois faz cenas para se dar dinheiro quase só a uns, lançando uma cortina de fumo para fazer esquecer o que se tem feito nos últimos anos”, referiu, para acrescentar que “em Coimbra desapareceu o Café Central, um dos mais emblemáticos, que teve uma tertúlia essencial na história da cultura portugueses e de onde saíram várias revistas, entre as quais a Presença, mas ninguém falou sobre isso”.

“Há agentes culturais em Coimbra que, pela sua conotação política e má criação têm conseguido vir para os jornais dizerem perfeitas barbaridades e darem a entender que aqui não se faz nada. No ano passado fez-se uma série de iniciativas sobre Miguel Torga, comemoraram-se os 140 anos de Camilo Pessanha, antes assinalou-se Carlos Seixas, o Arquivo Coimbrão esteve parado há 12 anos, mas sobre os grandes nomes de Coimbra a elite cultural não quer saber deles para nada”, rematou.

Para o jornalista Mário Martins, “a questão do deve ou não deve só serve para os dirigentes políticos andares nos jornais”. “Se mandasse não os proibia de escrever, mas tinham de o fazer em bom português”, refere, sustentado que “só acredita quando os políticos forem pessoalmente responsáveis pela execução financeira, pois é sempre o cidadão contribuinte que acaba por pagar”.

“Fui membro do Conselho Desportivo Municipal até há cerca de meio ano e demiti-me, porque há três anos que a Câmara não transferia verbas para os clubes e associações, apesar de milhares de jovens estarem a praticar regularmente várias modalidades”, revelou, contrapondo a preocupação por um grupo de teatro estar há dois anos sem receber subsídio.


Luis Santos, Campeão das Províncias, 20 de Fevereiro de 2008.