Autarquias acusadas de intervir "de forma avulsa"

As autarquias intervêm no domínio da Cultura "sem critério ou orientação e de forma avulsa", acusou ontem Paula Abreu, do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. A socióloga discursava no debate organizado pelo grupo de cidadãos promotor de um abaixo-assinado contra a política cultural da Câmara de Coimbra, subscrito já por mais de mil pessoas. Ao debate, no Teatro Académico de Gil Vicente, assistiram cerca de 400.

Sem a presença do ex-ministro Manuel Maria Carrilho, alegadamente por motivos de doença, e do delegado regional da Cultura António Pedro Pita, que teve de se reunir com o ministro da tutela, o moderador Abílio Hernandez começou por avisar: "Esta é uma reflexão sobre questões da cultura numa cidade - numa cidade!", frisou, para evitar que Coimbra monopolizasse o debate, sobre "Cidade, arte e política - o valor estratégico da cultura".

O pedido de Hernandez foi respeitado, até o debate ser aberto à plateia (o JN só pôde assistir a esta primeira parte), mas não parecia, quando interveio Paula Abreu. Com efeito, as declarações genéricas da socióloga sobre as autarquias sistematizaram muito do que tem sido dito pelos críticos da Câmara de Coimbra.

Começando por observar que houve um recuo da administração central, a favor da intervenção das autarquias na Cultura, Paula Abreu considerou que o poder local tem sido incapaz de exercer a nova fatia de poder de forma estruturada. "E, sem estratégia, não há intervenção política, há um conjunto de intervenções sem lógica absolutamente nenhuma, num desbaratar de recursos e na necessidade de dar resposta a clientelas", defendeu.

Noutra perspectiva, sobre o mesmo problema, observou: "Hoje já não batem à porta das autarquias só as associações, mas também as companhias de teatro, as orquestras, as empresas. E é preciso que as autarquias saibam responder...".


Nelson Morais, Jornal de Notícias, 21 de Fevereiro de 2008.