Razões para uma subscrição

Paulo Fonseca
Presidente do Fila K Cineclube



Caros Concidadãos,

O Fila K Cineclube aderiu conscientemente a este grupo de cidadãos que se sentem inconformados perante uma situação em relação à qual o Sr. Presidente da Câmara de Coimbra é o responsável político máximo e que persiste em não fazer inverter, para mal da cidade de Coimbra e, em particular, dos seus habitantes.

Em relação ao Cineclube de Coimbra e aos cinéfilos anónimos da cidade, os quase dois mandatos liderados pelo actual Presidente de Câmara não vão deixar quaisquer saudades, nem quaisquer motivos de que nos possamos lembrar no futuro.

Logo desde o início do primeiro mandato desta Vereação, o FKC dirigiu-se directamente aos seus dois Vereadores – da Cultura e da Juventude e Desporto –, propôs ideias, projectos e iniciativas e de todos eles teve a mesma resposta: nada.

Mas, pior do que uma resposta negativa (a ser devidamente justificada, ninguém teria nada a dizer), foi o facto de o ainda actual Presidente ter cancelado, uma semana antes do seu início, uma actividade que tinha sido aprovada por unanimidade em sessão de Câmara.

A afectação de valores foi aprovada na sessão de 30/06/2003 e publicitada através do Edital n.º 131/2003 (ver site http://www.cm-coimbra.pt/actas/2003/acta0630.htm): uma verba de 30.107 € para exibição de cinema ao ar livre no Jardim da Sereia no verão deste ano, sob proposta do Sr. Vereador Nuno Freitas.

Acontece que para esta sessão o FKC tinha feito uma entrega de 2.000 €, juntamente com um e-mail de aprovação da iniciativa por parte do secretariado da CMC, a fim de garantir as datas da realização destas sessões junto do operador, e inopinadamente, e sem que houvesse qualquer explicação, estas sessões foram pura e simplesmente anuladas, tendo o FKC perdido a única verba que dispunha no Banco.

Logo após o cancelamento, o que se exigia, no mínimo, era um pedido de desculpas (nem sequer falamos em qualquer esclarecimento) e a solicitação sobre se haveria algum compromisso já assumido por quem se responsabilizou perante a empresa produtora e que agora, a meia dúzia de dias do início da iniciativa, tinha sido cancelada.

Resultado: o FKC ficou sem 2.000 € e até à data nunca mais os recuperou.

Outra situação que mereceu da nossa parte total repúdio e indignação foi o facto de após termos solicitado ao Sr. Vereador da Cultura apoio para a instalação de um equipamento de projecção de cinema em 35mm, em segunda mão, no auditório do Instituto da Juventude de Coimbra – situação mais do que necessitada devido à fraquíssima qualidade de exibição cinematográfica desta cidade – este autarca tenha enviado uma carta a referir que “...a Câmara Municipal de Coimbra não pretende associar-se a este tipo de iniciativa, dado que, nesta altura, existem já muitas salas de cinema em Coimbra, o que implica 'concorrer' com os circuitos comerciais do ramo cinematográfico.”

Pior era impossível!

Estes dois factos infelizes não são uma questão de falta de dinheiro, são uma questão de falta de princípios e de respeito por quem, dentro das suas enormes limitações, procura construir um projecto para beneficiar directamente uma população e uma cidade que se encontra carenciada e a ser ultrapassada por tudo e por todos.

É uma vergonha.

Mas, por outro lado, a nossa caixa de correio é regularmente destino de muitas mensagens provenientes dos mais diversos Cineclubes do país, a procurarem informar o maior número possível de pessoas das notícias e programações que, orgulhosamente, esses agentes culturais promovem um pouco por todo o país.

O facto mais relevante em todas estas mensagens, obviamente sem contarmos com a qualidade e interesse dos filmes a exibir, é que todas elas têm um denominador comum: o envolvimento das respectivas Câmaras Municipais.

Desde os Cineclubes da Guarda ao de Guimarães, passando pelo de Aveiro, todos têm as Câmaras envolvidas, seja na localização da sede, seja na programação, seja nos equipamentos (no caso de Guimarães, que equipamento!) todos têm, em maior ou menor grau, o reconhecimento da sua Câmara Municipal no apoio às suas actividades. Trata-se, por isso, de uma situação perfeitamente normal.

E não é, de modo nenhum, uma questão de dinheiro, porque todas estas Câmaras, para além de outras não citadas, têm mais ou menos as mesmas dificuldades e todas têm mais ou menos as mesmas receitas, uma vez que se tratam de cidades com uma ordem de grandeza semelhante a Coimbra e algumas delas até bem mais pequenas.

Trata-se sim de uma questão de haver ou não uma atitude de respeito para com a cultura, de ter ou não uma política cultural definida, de uma boa ou má gestão dos (parcos) recursos existentes, de se achar ou não que “gastar tempo” com a cultura é um desperdício, de existir ou não uma identificação de prioridades, ou seja, de exercer ou não um mandato com responsabilidade e sentido de cidadania na sua expressão mais nobre e digna.

Sim, porque a promoção da cultura, é prioridade maior em todas as sociedades. Sempre foi assim e assim será.

Pelo contrário, as práticas e hábitos de novo rico e provinciano – que são todas aquelas que dão prioridade às políticas que promovem o consumo exacerbado e descontrolado das pessoas, que promovem a construção desordenada e apenas orientada para a receita municipal, que não valorizam nem recuperam património construído das suas zonas históricas, que usam os dinheiros públicos para investimentos desmesurados e inconsequentes motivados apenas pela caça de votos eleitorais – são todas elas más práticas e, infelizmente ou desgraçadamente, com um preço muito elevado a cobrar, mais cedo ou mais tarde, ao incauto e cada vez mais descuidado cidadão/munícipe.

Sim, tem um preço elevado, porque a prática de uma política asséptica, sem alma, sem gosto, sem arte, é um sinal de fraqueza humana e de espírito, que não deixa rasto, nem futuro digno de ser seguido seja por quem for.

Uma sociedade assente na ausência dos valores culturais não tem nada para contar, porque não tem nada de que se orgulhar.