Cultura e Conhecimento para a Coimbra do século XXI
Coimbra não vive... sobrevive. Não tem identidade. Respira do passado, da tradição. Coimbra definha. Está amorfa. Vive à sombra e em torno da Universidade, como se esta, só por si, lhe trouxesse o oxigénio cultural que precisa.
Coimbra precisa de aglutinar os agentes culturais, que existem e são de qualidade, em torno de uma estratégia política de desenvolvimento e de dinamismo cultural, própria de uma cidade universitária de contexto europeu.
As cidades são hoje, em si e por si, organismos dinâmicos que definem uma cosmovisão, uma forma de estar, um modus vivendi. Por isso dizemos "Londres", "Barcelona", "Paris" e não, como ainda há uns anos, "Inglaterra", "Espanha", "França". Estas cidades emergiram globalmente com características próprias, com uma identidade cultural que as distingue, com "hábitos" específicos. É neste quadro que devemos inscrever Coimbra, e não somente por razões culturais (o que já de si seria suficiente e urgente). Sabemos hoje que as Indústrias Culturais e Criativas, são exponencialmente importantes para o desenvolvimento económico de uma região. São geradoras de riqueza económica, de postos de trabalho, de auto-estima, de bem-estar, de vida social, de enriquecimento cultural. Coimbra não tem indústria. Baseia-se na economia de Serviços, Comércio e Ensino, e só não está mais deprimida porque vai alimentando o seu ego com a sacra Universidade.
Curiosamente, este fenómeno de depressão cultural que se vive em Coimbra, assola também outras cidades portuguesas, nomeadamente a cidade do Porto. No Jornal Público de Domingo (03 de Fevereiro/08) foi publicada uma entrevista com Tom Fleming (director geral da empresa Tom Fleming Creative Consultancy) que se prepara para elaborar um estudo no qual definirá uma estratégia de revitalização económica para a cidade do Porto através da valorização e da acção dos agentes culturais. A tese de Doutoramento de Fleming aborda o caso da cidade de Sheffield (Condado de South Yorkshire), uma das cidades mais populosas da Inglaterra, que faliu industrialmente no início da década de 80, do século XX, e que se revitalizou economicamente através das Indústrias Culturais e Criativas.
Coimbra só encontrará um espaço de afirmação a nível nacional e internacional através do que tem de melhor: a cultura e o conhecimento. De quê que se está à espera?
A Vereação da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra não pode ser uma espécie de empresa de gestão de eventos. Exige-se que defina estratégias políticas de dinamização e enriquecimento cultural a curto, médio e longo prazo, em concertação íntima com os Pelouros do Turismo e a da Educação. Exige-se que promova a cidade e os seus agentes, ressuscite e crie uma identidade de cidade de contexto europeu e que, acima de tudo, respeite os seus cidadãos e cidadãs.
Hélder Bruno de Jesus Redes Martins
Hélder Bruno de Jesus Redes Martins