Debate quarta-feira no TAGV: Cultura sem cultivo

No passado mês de Janeiro foi apresentado, por um conjunto de 160 cidadãos, um artigo intitulado "Pelo direito e pelo dever de cultura!". Este texto, actualmente disponível no site amigosdacultura2008.blogspot.com, é basicamente uma tomada de posição por parte dos cidadãos sobre a importância da existência de uma política cultural mais consistente em Coimbra. Esta iniciativa vem ao encontro de outra, tomada também em forma de documento, no final do ano 2005, intitulado "O saneamento básico da cultura", onde se chamava a atenção para o corte de 60% nas verbas destinadas à cultura no orçamento para 2006 e à "falta de respeito pelo trabalho dos agentes culturais, pela cidade e por quem nela vive".

Segundo o texto apresentado por José Reis e João Maria André, responsáveis pela conferência de imprensa onde foram expostos os objectivos desta iniciativa, a Câmara Municipal não só não apoia devidamente a actividade cultural da cidade como também se apresenta como "elemento dificultador e tendencialmente destruidor do potencial de criação artística que a cidade possui".

O orçamento para 2008, disseram então, é bom exemplo disso, onde ser verifica um corte de 3 milhões de Euros (menos 80% do que em 2004) que acabou por se repercutir em várias instituições culturais por toda a cidade como o cessar de protocolos com o TAGV, a falta de condições mínimas dadas ao Centro de Artes Visuais e também ao Teatro da Cerca de São Bernardo ao recusar-se a pagar as despesas com a electricidade.

A Câmara Municipal pronunciou-se acerca desta questão pela voz do seu presidente Carlos Encarnação, que terá afirmado num debate radiofónico que "muitas das pessoas que subscreveram o documento nem sequer o conhecem". Também o vereador Marcelo Nuno afirmou, em artigo publicado neste jornal, que os orçamentos são avaliados de forma parcial e incompleta porque, segundo ele, "o que verdadeiramente permite aferir do que se investiu em cada área, em cada rubrica, é a execução e não o orçamento". O vereador disse que houve "fortes investimentos no domínio da Cultura nos últimos seis anos", referindo-se à construção do Teatro da Cerca, à Casa Museu Miguel Torga e à Oficina Municipal de Teatro, ou construção da sede do Teatro Amador de Taveiro.

Catarina Martins, deputada municipal, contraria a interpretação do vereador, acusando o executivo de estar a levar a cabo uma "política de paredes" e de se limitar à construção de "infra-estruturas, sem que a própria Câmara saiba para que servem, ou em que estratégia se inserem".

Assim, e em virtude do interesse público que tem suscitado esta iniciativa, vai ser organizado pelos subscritores um debate público, na próxima quarta-feira, no TAGV. O evento contará com a presença de Manuel Maria Carrilho, ex-ministro da Cultura, Pedro Pita, director regional da Cultura, e José António Bandeirinha, pró-reitor da UC.

José Reis (economista) e Paula Abreu (socióloga) completam a lista das cinco intervenções iniciais que abrirão o debate. Abílio Hernandez (professor de Letras) moderará a discussão.


Diário de Coimbra, 18 de Fevereiro de 2008