Catarina Martins
(Jornal de Notícias, 31 de Janeiro de 2008)
No passado dia 23, um grupo de cidadãos de Coimbra lançou um manifesto intitulado "Pelo Direito à Cultura e pelo Dever da Cultura", veiculando uma crítica veemente à política cultural da Câmara Municipal. Os argumentos são demolidores o desinvestimento acentuado que, em 2008, atinge o descalabro (menos 80% do que em 2004), o desprezo ostensivo votado pela Câmara aos agentes culturais, e, sobretudo, a falta de um plano estratégico para a cultura, que ultrapasse o eventismo e consista a base real de uma estratégia de desenvolvimento, sustentada em vectores identitários. Esta iniciativa cidadã, que conta já com mais de 700 signatários (www.amigosdacultura2008.blogspot.com), entre os quais uma vastíssima parte dos agentes culturais locais, revela um fundamentado conhecimento da matéria e um profundo sentido do dever em relação a Coimbra.
Por esta razão, merece a mais forte indignação a reacção do presidente da Câmara ao documento e aos seus signatários, acusados de desconhecerem o texto, redigido "à mesa de um café", um texto "pobre", "uma verdadeira tristeza" que "confunde tudo" (como se pôde ouvir na Rádio Clube do Centro, a 24 de Janeiro).
Rumo autoritário
A sobranceria de Carlos Encarnação confirma o rumo autoritário da sua governação. O Presidente da CMC nem sequer se preocupa com a verdade distorce os factos, e apelida quem neles se apoia de mentirosos, afirmando que não é "sensível a opiniões dadas com dados não concretos e opiniões não verdadeiras" ou a "apreciações absurdas".
Encarnação defende a política camarária com base no que apelida de investimento em infra-estruturação enumera a Oficina Municipal do Teatro e o Teatro da Cerca, dois equipamentos de construção anterior aos seus mandatos e que se limitou, no primeiro caso, a inaugurar e, no segundo caso, a desbaratar, através de uma incompetência tal que o Teatro, ainda não licenciado e a funcionar ilegalmente, está a ser alvo de obras de recuperação, antes mesmo de ser inaugurado. Desafio os leitores a encontrarem no orçamento camarário a verba para o funcionamento destas infra-estruturas. Quanto à Casa da Escrita e ao Convento de S. Francisco, um híbrido entre Centro de Congressos e Teatro, desconhece-se em que estratégia de programação cultural se inserem. Para além de que o próprio executivo camarário nem sequer considerou as verbas respectivas dignas de inclusão no orçamento para a cultura.
Trata-se, no caso da Casa da Escrita, de verbas da rubrica da recuperação urbana, como acontece há vários anos, e que o Presidente quer agora, apressadamente, deslocar, para disfarçar o desinvestimento escandaloso na cultura. Ora, mesmo com este pequeno disfarce, as verbas para a cultura diminuiriam 15% em relação ao ano anterior, e 64% em relação a 2004.
O orçamento que a Assembleia Municipal aprovou para 2008, com os votos da coligação PSD/PP/PPM, é o que abaixo reproduzo. E não qualquer outro quadro-resumo, que, segundo o que Encarnação disse ao Rádio Clube, teria ele próprio indicado aos deputados. Perante a AM, o presidente da CMC não falou sobre o orçamento limitou-se a fazer piadas de mau gosto. A gravação da reunião está lá para o provar.
Senhor presidente, a mentira tem perna curta e, a acreditar na dinâmica cidadã que agora desperta, a sua sobranceria não durará muito mais tempo.
(Jornal de Notícias, 31 de Janeiro de 2008)
No passado dia 23, um grupo de cidadãos de Coimbra lançou um manifesto intitulado "Pelo Direito à Cultura e pelo Dever da Cultura", veiculando uma crítica veemente à política cultural da Câmara Municipal. Os argumentos são demolidores o desinvestimento acentuado que, em 2008, atinge o descalabro (menos 80% do que em 2004), o desprezo ostensivo votado pela Câmara aos agentes culturais, e, sobretudo, a falta de um plano estratégico para a cultura, que ultrapasse o eventismo e consista a base real de uma estratégia de desenvolvimento, sustentada em vectores identitários. Esta iniciativa cidadã, que conta já com mais de 700 signatários (www.amigosdacultura2008.blogspot.com), entre os quais uma vastíssima parte dos agentes culturais locais, revela um fundamentado conhecimento da matéria e um profundo sentido do dever em relação a Coimbra.
Por esta razão, merece a mais forte indignação a reacção do presidente da Câmara ao documento e aos seus signatários, acusados de desconhecerem o texto, redigido "à mesa de um café", um texto "pobre", "uma verdadeira tristeza" que "confunde tudo" (como se pôde ouvir na Rádio Clube do Centro, a 24 de Janeiro).
Rumo autoritário
A sobranceria de Carlos Encarnação confirma o rumo autoritário da sua governação. O Presidente da CMC nem sequer se preocupa com a verdade distorce os factos, e apelida quem neles se apoia de mentirosos, afirmando que não é "sensível a opiniões dadas com dados não concretos e opiniões não verdadeiras" ou a "apreciações absurdas".
Encarnação defende a política camarária com base no que apelida de investimento em infra-estruturação enumera a Oficina Municipal do Teatro e o Teatro da Cerca, dois equipamentos de construção anterior aos seus mandatos e que se limitou, no primeiro caso, a inaugurar e, no segundo caso, a desbaratar, através de uma incompetência tal que o Teatro, ainda não licenciado e a funcionar ilegalmente, está a ser alvo de obras de recuperação, antes mesmo de ser inaugurado. Desafio os leitores a encontrarem no orçamento camarário a verba para o funcionamento destas infra-estruturas. Quanto à Casa da Escrita e ao Convento de S. Francisco, um híbrido entre Centro de Congressos e Teatro, desconhece-se em que estratégia de programação cultural se inserem. Para além de que o próprio executivo camarário nem sequer considerou as verbas respectivas dignas de inclusão no orçamento para a cultura.
Trata-se, no caso da Casa da Escrita, de verbas da rubrica da recuperação urbana, como acontece há vários anos, e que o Presidente quer agora, apressadamente, deslocar, para disfarçar o desinvestimento escandaloso na cultura. Ora, mesmo com este pequeno disfarce, as verbas para a cultura diminuiriam 15% em relação ao ano anterior, e 64% em relação a 2004.
O orçamento que a Assembleia Municipal aprovou para 2008, com os votos da coligação PSD/PP/PPM, é o que abaixo reproduzo. E não qualquer outro quadro-resumo, que, segundo o que Encarnação disse ao Rádio Clube, teria ele próprio indicado aos deputados. Perante a AM, o presidente da CMC não falou sobre o orçamento limitou-se a fazer piadas de mau gosto. A gravação da reunião está lá para o provar.
Senhor presidente, a mentira tem perna curta e, a acreditar na dinâmica cidadã que agora desperta, a sua sobranceria não durará muito mais tempo.