(Público, 6 de Janeiro de 2006)
Há tempos, estive em Coimbra, e fiz referência ao estado de decadência em que se encontra o Centro de Artes Visuais (CAV). Muito amavelmente, o presidente da câmara, Carlos Encarnação, escreveu-me uma carta em que, de um modo mais ou menos subtil, enumerava as coisas que eu (não) teria visto, e insinuava que se não podia proteger apenas os amigos. E lá vinham as restrições orçamentais, etc. e tal. Devo dizer que este estilo “raposa matreira” de Carlos Encarnação me convenceu muito pouco. Independentemente das minhas relações pessoais com quem esteja neste momento à frente do CAV, há ali magníficas instalações, inauguradas pelo próprio Carlos Encarnação com pompa e circunstância, e que estão a ficar ao abandono. Chama-se a isto delapidar os recursos públicos. A maior cidade do centro do país, com uma enorme população universitária, não pode dar-se a estes luxos. Carlos Encarnação fala na peça de Pedro Cabrita Reis com grande e justificado orgulho. Mas isto significa que a não vê há muito tempo. Colocada num pátio, caem pedaços que ficam arrumados a um canto. Estamos perante um acto objectivo de vandalismo.
A assembleia municipal, com maioria PPD/CDS/PPM, confirma uma vez mais que, com raras excepções, a direita portuguesa, ao contrário de outras que existem por esse mundo fora, não faz a menor ideia dos problemas da cultura e das questões a resolver. E cortou a eito. Houve uma redução de 45 por cento, segundo os jornais, das verbas para a Cultura, Mário Nunes, que, como toda a gente sabe desde o início, seria excelente no domínio do tratamento do lixo ou mesmo na gestão do pessoas, mas de cultura nada entende: é um zero... à direita. Há um provincianismo que ressalta à mais leve conversa com o dito senhor, e que nos leva a pensar que para ele a cultura são essas formas de adulteração da cultura popular, que passam por ranchos e ranchinhos, acompanhados pelo respectivo acordeão. E, como dizem os irredutivelmente pacóvios, tudo o mais é elitismo.
Um amplo e significativo grupo de personalidades reconhecidas da vida de Coimbra (de Abílio Hernandez a Vital Moreira, de Gomes Canotilho a Carlos Reis, de Reis Torgal a João Mendes Ribeiro, de José Reis a Manuela Cruzeiro, veio há dias denunciar o ataque cerrado à cultura pela parte da câmara municipal e da sua maioria. Quando o lamentável Mário Nunes, pau para todas as colheres, vem dizer que os contratos celebrados com a Escola da Noite e o Teatro Gil Vicente são “gravosos” e “lesivos” para os interesses do município, percebemos que terreno pisamos. O mesmo se poderá dizer do CAV, e será por isso que Carlos Encarnação nem mesmo cumpre as obrigações financeiras a que estava contratualmente obrigado. Para ele, é tudo uma questão de amigos. O que é a desculpa quando se tem alguns amigos medíocres que querem apoios e subsídios. Os critérios de qualidade não parecem existir.
Donde, neste momento, em termos culturais, Coimbra não é uma lição.
Eduardo Prado Coelho, Professor universitário.
A assembleia municipal, com maioria PPD/CDS/PPM, confirma uma vez mais que, com raras excepções, a direita portuguesa, ao contrário de outras que existem por esse mundo fora, não faz a menor ideia dos problemas da cultura e das questões a resolver. E cortou a eito. Houve uma redução de 45 por cento, segundo os jornais, das verbas para a Cultura, Mário Nunes, que, como toda a gente sabe desde o início, seria excelente no domínio do tratamento do lixo ou mesmo na gestão do pessoas, mas de cultura nada entende: é um zero... à direita. Há um provincianismo que ressalta à mais leve conversa com o dito senhor, e que nos leva a pensar que para ele a cultura são essas formas de adulteração da cultura popular, que passam por ranchos e ranchinhos, acompanhados pelo respectivo acordeão. E, como dizem os irredutivelmente pacóvios, tudo o mais é elitismo.
Um amplo e significativo grupo de personalidades reconhecidas da vida de Coimbra (de Abílio Hernandez a Vital Moreira, de Gomes Canotilho a Carlos Reis, de Reis Torgal a João Mendes Ribeiro, de José Reis a Manuela Cruzeiro, veio há dias denunciar o ataque cerrado à cultura pela parte da câmara municipal e da sua maioria. Quando o lamentável Mário Nunes, pau para todas as colheres, vem dizer que os contratos celebrados com a Escola da Noite e o Teatro Gil Vicente são “gravosos” e “lesivos” para os interesses do município, percebemos que terreno pisamos. O mesmo se poderá dizer do CAV, e será por isso que Carlos Encarnação nem mesmo cumpre as obrigações financeiras a que estava contratualmente obrigado. Para ele, é tudo uma questão de amigos. O que é a desculpa quando se tem alguns amigos medíocres que querem apoios e subsídios. Os critérios de qualidade não parecem existir.
Donde, neste momento, em termos culturais, Coimbra não é uma lição.
Eduardo Prado Coelho, Professor universitário.