depoimentos: Bruno M. Santos

Qualquer coisa sobre outra coisa
essa coisa sim que não é linda.

Quando no início de um mês de meados de um ano cheguei à cidade de Coimbra, esperava dos movimentos intrínsecos à cidade muitas outras coisas coisas outras. Não podia saber bem o que o poderia esperar. Nem tal facto me importava. Não me iimportava realmente nada. NNada. Queria descobri-los pelos meus próprios pés (nos olhos). Mas não esperava (nos pés e nos olhos e na ponta dos dedos tacteantes), pelo menos, encontrar, pelo mais, movimentos tão desmesuradamente intrín-secos quanto aqueles que encontrei na cidade onde os estudantes líquidos (como substânciaprima para matar a sede ou para embriagar a pele) abundam nas ruas e na juventude (não obrigatoriamente de espírito).

Gritavam no momento de uma passagem a alta voz (na voz)
Coimbra é tradição! Coimbra é tradição,
às vezes começa a ser um pouco tarde para Coimbra ser o que quer que seja (para quem quer que seja). Não percebo as vozes. Não quero perceber (metaforica ironica mente) as vozes ou o que elas dizem ou o que elas têm para dizer (ou o que elas julgam que têm para dizer). Não quero perceber, talvez. Mas sei que, se alguém quer que a cidade seja tradição, pelo menos faça tradição de algo útil, fazendo da tradição algo de útil.
Há muitas vozes soando, algumas ecoam e outras soam mais alto. Mas vêm de lantejoulas e caíram no ridículo. Acho-lhes graça. Não lhes dou a ponta do cigarro.

Com a cinza dos cigarros de quem tem (o) poder no chão da calçada polida, os tons do céu (soando) vão as-suando a substância (poluída) do ar.

Os espaços abertos vão aguentando acesos com suas diminutas forças (na cidade comprimidas perante situações aberrantes / expandidas perante aberrantes shit-uações, como quem se fortalece a si mesmo com suplementos que nem sempre servirão para manter de pé a tesão). O seu acesso à merecida dignidade permanece amputado. O seu futuro permanece em aberto.

Alguns desconhecem. E a ignorância espalha-se, pelo des-exercício.

Recriminam-me por andar na rua. E a cultura?, onde a fecharam? Quem deu três voltas à chave e de seguida sussurrou para consigo mesmo menos mal tomo dois comprimidos? Quem baralhou isto tudo/ Quem fez barulho com colagens de silêncio? Quem é que me diz que eu não posso dizer menos mal tomo dois comprimidos? Foi quem matou as faculdades do corpo e os seus meios de (tr)acção?

Lá ao longe, para lá da ribanceira, uma obra de arte vai ser dada à luz. Quem quer matar a próxima noiva?


Bruno M. Santos